POESIA DO RIO
Luiz André Sartori – Prof. da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR)
Do pranto do rio começo a jornada
De longo caminho em busca do mar
Num leito tão duro, tão duro de pedra,
Me lanço pra frente, pra trás nem pensar.
Ó chuva bendita, me ajude a correr
Sulcando o caminho, lançando-me ao léu,
Se corro, me bato na rocha e me espumo,
Se canso, me amanso e me cubro de céu.
Areias e seixos, minhas companhias,
Riscando, incansáveis, a rota a seguir.
Me estreito, me alargo, me lanço no espaço.
Sou fundo sou raso, um bravo a erodir.
Lambendo a rocha e beijando a folhagem,
Correndo direto tal qual uma flecha,
Me curvo, me entorno, me deito quieto
Na praia de areia da margem convexa.
Tem vida nadando, cortando a corrente,
Coberto de escamas ou pele tão lisa .
Tem gente tirando meu sangue das veias
Bebendo, sedenta, a base da vida.
Que campos tão verdes são esses que irrigo
Por que me envenenam se nunca mal fiz
Se só vida dou e energia me tiram,
Me matam, poluem, estou por um triz.
Um leito tão plano, tirando-me as forças,
Que deixo para trás companheiros de viagem.
São seixos e seixos, cascalho e areia,
Das lutas de cheias, calor e estiagem.
Que gosto esse de sal que estou a sentir
Que som esse que escuto tão perto cantar
È o fim que anseio, que busco há tempo,
Cansado, ainda grito “Enfim eis o mar”.
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