por Marcel Ribeiro Padinha
Nos Últimos 50 anos, a Amazônia vive um profundo processo de
reestruturação sócio-espacial e reordenamento histórico-cultural. Esse
processo ocorre, de maneira intensa, a partir da década de 1960, e
compõe a política de “integração” e incorporação da região à “nova”
divisão territorial do trabalho em escala nacional e internacional. A
região consolida-se ao longo desses anos como um espaço estratégico para
o projeto de nação que o Estado brasileiro autoritário ou
pseudodemocrático projeta para o país.
A prioridade é “modernizar” a Amazônia, livrá-la do abandono. O
caminho? A modernização do território por meio de um “sistema de
objetos” materializado em uma malha de controle técnico e político, uma
“malha programada”, constituída pelo conjunto de programas e planos
governamentais que colocaram a Amazônia na condição de uma fronteira de
recursos naturais a ser violentamente incorporada pelo grande capital.
Desta forma, o paradigma que norteia esse processo de ocupação da Amazônia é a economia de fronteira,
que se fundamenta na idéia de progresso e de desenvolvimento –
entenda-se crescimento econômico – e prosperidade INFINITA com base na
exploração de recursos naturais, também eles percebidos como de duração
INFINITA.
Acompanhando o projeto de modernização da Amazônia tem-se um conjunto
de “magmas de significação” responsáveis pela criação de um imaginário
em que se atribui uma positividade ao novo, tido como o
moderno, o inovador e uma negatividade ao antigo, ao herdado do passado,
ao tachado de tradicional. Essa perspectiva de compreensão da história e
da realidade está pautada numa “ideologia do progresso” e numa espécie
de “fundamentalismo do novo”, presentes em práticas e formas de
representações caracterizadas pela violência e pelo colonialismo que
ainda servem para justificar a marginalização de populações
representativas da Amazônia, quais sejam: índios, ribeirinhos, pequenos
agricultores, seringueiros, varzeiros, populações quilombolas.
Essas sociedades que possuem práticas de sociabilidades diferenciadas
passam a ser classificadas como tendo modos de vida ultrapassados, por
estarem pautadas em outras temporalidades históricas e configuradas em
outras formas de TERRITORIALIDADES e por terem modos de vida
estruturados a partir de racionalidades econômicas e ambientais com
saberes e fazeres DIFERENCIADOS da racionalidade CAPITALISTA.
Esse projeto de modernização autoritária é materializado por meio de
um Estado autoritário, e viabilizado através de grandes projetos,
grandeza explicada pelo tamanho da desgraça que geram. Isso explica o
porquê, de 50 anos pra cá, tais populações junto com suas sociabilidades
singulares serem tidas como obstáculos ao “desenvolvimento”, posto que
nessa visão se vislumbre um único futuro possível: a modernização
ocidental capitalista e a sociedade de consumo urbano-industrial.
Aqueles povos que não forem dignos de incorporar-se a esta marcha
inexorável da história estão fadados a não mais existir... se assim eles
e nós o permitirmos.
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