domingo, 20 de fevereiro de 2011

Amazônia, Nova Fronteira e o Lugar de Altamira

Prof. José Q. Miranda Neto

Marcada pela natureza exuberante e também pelos graves conflitos agrários e problemas socioambientais, a Amazônia é uma região que, cotidianamente, estampa as capas de jornais e revistas em todo o mundo. A popularidade da região é tão evidente quanto os desafios a serem enfrentados neste século, considerando que, de um lado, os organismos internacionais de proteção ambiental exigem a conservação da natureza e, de outro, o mundo ainda caminha pelos rigorosos fundamentos do crescimento econômico, que gera constante pressão sobre os recursos naturais. Diante disso, o que se pode esperar da Amazônia daqui a vinte ou trinta anos?

Transporte de madeira ilegal em Altamira


A questão é bem mais complexa do que parece. Porém, ao analisarmos o caminho histórico da região e refletirmos com base em uma literatura fundamentada, podemos prever algumas mudanças no horizonte. Acredito que, no futuro, os cenários tendem a uma região bem mais organizada no que diz respeito ao território. Isso não representa, de modo algum, a superação da dominação no sentido ortodoxo, mas a alteração nas relações de trabalho e na forma da exploração capitalista. De modo mais objetivo, podemos dizer que o trabalho assalariado tende à ampliação, aliado à absorção de formas de produção regionais (como a agricultura familiar tradicional) à cadeia do capital.

Foto meramente ilustrativa
Fonte: http://caminhoes-e-carretas.blogspot.com


Tomemos como base a região do Xingu e da transamazônica, entre Novo Repartimento em Rurópolis.
À medida que se amplia a organização do território em termos de infraestrutura, a exemplo do asfaltamento da transamazônica (BR-230), as áreas mais próximas do eixo rodoviário se tornam estratégicas para a acumulação de capital, sinalizando a expansão das empresas agrícolas na forma de agroindústrias. Isso acarretará, de modo geral, três efeitos diferentes: 1) a alteração das relações de trabalho no campo, com a substituição (ou transformação) da agricultura familiar em trabalho assalariado; 2) a acentuação do êxodo rural-urbano, com implicações diretas no crescimento populacional na sede municipal de Altamira; 3) a expansão da atividade agrícola extensiva em áreas de proteção ambiental, com ampliação do desmatamento e acentuação de conflitos. Este último efeito dependerá da forma pela qual o Estado vai atuar no sentido de minimizar os dois primeiros efeitos.
Todas essas consequências, por conseguinte, se dão mediante a alteração da concepção de ocupação da região, antes dominada pelo arco de fogo, fase de grande alteração da paisagem natural pelo desmatamento em larga escala. Hoje, podemos afirmar que, com a ampliação da composição orgânica do capital, caracterizada por melhoramentos nas redes técnicas de escoamento, a nova fronteira do capital natural, defendida por Bertha Becker como a tendência atual de ocupação da Amazônia, tende à consolidação. Esse novo empreendimento, contudo, deverá causar alterações significativas na forma do trabalho, primeiro porque as alternativas no setor primário da economia tendem a se tornar escassos, acompanhado do aumento do comercio e do setor de serviços. Isso, por conseguinte, deverá gerar o aumento significativo da população urbana na cidade de Altamira.
Nesse sentido, duas ações articuladas se tornam relevantes para que não se repita a velha história dos anos 60 na região. Em primeiro lugar, uma política que garanta a sustentabilidade da produção familiar, como o exemplo do PDS em Anapú, a fim de conter o iminente processo de proletarização rural. Em segundo lugar, deve-se investir num planejamento urbano criterioso, que considere uma projeção da migração rural-urbana para a cidade de Altamira. Temos, então, dois grandes desafios para fazer uma história diferente, que dependem não apenas da vontade dos governantes, mas na base de ações dos movimentos sociais e das instituições de pesquisa e desenvolvimento atuantes na região.

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