domingo, 20 de fevereiro de 2011

“BIG B.... BRASIL”


Prof. Luiz Fernando Roscoche

Certa vez, Sérgio Augusto fez o seguinte comentário “A Holanda, que um dia nos enviou a missão de Mauricio de Nassau e ao planeta ofertou Espinoza, Rembrandt, Vermeer, Van Gogh, Erasmo, Frans Hals, Bert Hanstra, Mondrian, Nina Foch, Joris Ivens, Cruyff e a cerveja Amstel, agora vive de exportar uma cretina gincana televisiva cujo título vampiriza um clássico da literatura inglesa do século passado que nada tem a ver com folguedos competitivos e patacoadas exibicionistas”. Para quem não entendeu, Sérgio está fazendo uma alusão ao famigerado programa “Big Brother”, sobre o qual, uma empresa holandesa detém os direitos autorais e que alimenta o desejo voyerista de espectadores em todo o mundo, inclusive no Brasil. Já o clássico da literatura inglesa, citado pelo autor, é uma referência a uma obra de George Orwell.
“Evoluímos muito” desde a Roma Antiga, não atiramos mais cristãos aos leões, agora, “o espetáculo” é proporcionado por pessoas dentro de uma “jaula de luxo”, onde nós, “os juízes”, podemos estudar e julgar o comportamento dos participantes e decidir quem leva para casa o prêmio milionário. Neste mundo globalizado deixamos de falar mal da vida de nossos vizinhos e censurar seus atos para bisbilhotarmos a vida dos moradores deste zoológico hi-tec.
Mas, deixando de lado a falta de conteúdo e a bestialidade deste “espetáculo”, podemos nos ater a questões mais específicas, como por exemplo, as cifras do referido programa. Imaginem que cerca de 20.000.000 (milhões) de ligações do povo brasileiro em apenas um “paredão”, votando em algum candidato para ser eliminado. Se estimarmos que o preço da ligação é de R$ 0,30 (trinta centavos), então teremos R$ 6.000.000,00. Mas, vamos supôr que a rede Globo fique com apenas 50% deste valor e o restante com a companhia telefônica, mesmo assim, teríamos uma arrecadação de R$ 3.000.000,00. Lembrando que isso em apenas um “paredão”. Mas a arrecadação do programa não para por aí, existe ainda o patrocínio de grandes empresas de cosméticos, cervejarias e outras, além é claro da arrecadação das assinaturas de TV e da internet para que as pessoas possam assistir o mesmo em tempo real.
Fico pensando que milhões de brasileiros ligam semanalmente para este programa, tirando dinheiro do seu bolso para participar de algo tão sem conteúdo. Em contraposição, são incapazes de exercer seu direito democrático, fiscalizando os gastos públicos ou realizando campanhas para ajudar as pessoas que realmente necessitam.
Alguém sabe quais foram as cifras da arrecadação destinada aos desabrigados do Rio de Janeiro, afetados pelas enchentes e deslizamentos?
O que indigna mais, é a idolatria aos participantes, chegando-se ao cúmulo do apresentador deste programa, chamá-los em uma determinada edição de “Heróis”.
Segundo o dicionário Houaiss, herói é um indivíduo notabilizado por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade etc, ou ainda indivíduo capaz de suportar exemplarmente uma sorte incomum (p.ex., infortúnios, sofrimentos) ou que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem.
Como diria Daniela Baracat Sâmara, em uma mensagem que circula pela Internet “heróis são os milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo santo dia; são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna; são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados; são aqueles que conseguem viver com apenas um salário mínimo”.
Quer ser um verdadeiro “brother” (irmão)? Então da próxima vez ligue para contribuir para milhares de entidades assistências de caridade espalhadas pelo nosso país e pelo mundo. Quer dar um “espiadinha”, então, primeiro abra os olhos e olhe para dentro de você e, quem sabe assim, poderá enxergar com mais clareza o mundo a sua volta. Já é um bom começo! Como diz a frase “As pessoas inteligentes discutem ideias. As medianas discutem fatos. As medíocres discutem a vida dos outros…” (autor desconhecido)

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