domingo, 20 de fevereiro de 2011

A floresta Amazônica vale mais no chão ou de pé?

Profa. Rita Denize de Oliveira
Quando nos deparamos com alguma noticia sobre a exploração madeireira, imediatamente, o nosso subconsciente atrela essa atividade a fatos negativos, fazendo imediatamente um paralelo a impactos sócio-ambientais, enraizados historicamente na exploração convencional na Amazônia, dentre as quais destacamos avanço das pastagens sobre áreas florestadas, uso de maquinário pesado no interior da floresta, mão-de-obra desqualificada, condições degradantes de trabalho, desrespeito as áreas de proteção permanente, assoreamento de rios, compactação de solos, alteração de microclima e perdas incomensuráveis na biodiversidade.
Tentando construir novos modelos de manejo florestal o IFT (Instituto de Floresta Tropical) tem desenvolvido metodologias no sentido de explorar a floresta de forma racional e sustentável. O manejo florestal inclui uma ampla gama de objetivos e atividades, dependendo do proprietário ou detentor da floresta, pode incluir exploração madeireira assim como uma grande variedade de atividades florestais, entre as quais manejo da vida silvestre, manejo de reservas extrativistas, os serviços ambientais e recreação. Entretanto, trataremos do manejo voltado para exploração madeireira, discussão motivada pela participação de professores e técnicos da Faculdade de Engenharia florestal e Faculdade de Geografia, Campus de Altamira (UFPA), no curso de Manejo Florestal sustentável de exploração de impacto reduzido para tomadores de decisões, ministrado pelo Instituto de Floresta Tropical (IFT), fazenda Cauxi, Paragominas. Segundo os estudos desenvolvidos pelo IFT, é possível através do manejo florestal reduzir os desperdícios e aumentar a eficiência das operações, que aumenta a rentabilidade da floresta e minimiza os impactos ecológicos (Nogueira et al. 2010) .
Nesse sentido, a EIR (Exploração de impacto reduzido) apresenta princípios básicos: Planejamento adequado, tecnologia apropriada, censo das árvores pré-corte, corte de cipós quando necessário, corte direcionado, arraste controlado, trabalhadores qualificados, supervisão. O planejamento esta dividido em macro e micro planejamento, no primeiro são avaliadas as potencialidades da propriedade, distribuição dos recursos hídricos, levantamento da topografia respeitando as limitações naturais e reaproveitando ao máximo a infra-estrutura pré-existente.
O micro planejamento corresponde a definição da unidade de trabalho, sendo realizado um inventario florestal 100%, definindo espécies matrizes e remanescentes que são georreferenciadas e plotadas em mapas utilizando softwares específicos, e futuramente submetidas a técnicas especiais de corte (corte direcionado) e arraste planejado nos ramais, afetando ao mínimo as espécies potenciais, minimizando a compactação de solos, e viabilizando a capacidade de regeneração natural da floresta.
Outro aspecto importante, é que os pátios de estocagem de madeira são menores e construídos em espiral vindo das bordas para dentro. Apesar de todos os avanços, os profissionais de varias instituições como INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Instituto Chico Mendes e UFPA que estiveram presentes, fizeram vários questionamentos, dentre os quais: os planos de manejo florestal são ainda a nível local (propriedade rural), quando poderiam usar a bacia hidrográfica como unidade de planejamento,como a legislação sugere. Outro ponto de discussão, é que não é realizada uma caracterização climática, importante para fornecer dados sobre precipitação, e de vazão dos rios, um levantamento pedológico, visto que o solo é a base para o pleno desenvolvimento da atividade, e faunístico, pois é de extrema importância saber o nível de stress causado pela atividade, segundo, os instrutores, se esses critérios fossem implementados no manejo florestal, elevaria bastante o custo nos primeiros anos de negocio, fazendo um parêntese, infelizmente as empresas de exploração madeireira na Amazônia ainda tem uma tradição de retorno financeiro a curto prazo.
Por fim, o objetivo desse texto, é parabenizar a iniciativa do IFT, sem no entanto, apresentar uma “receita de bolo”, que deverá ser aplicada em vários cantos da Amazônia, até porque a floresta possui inúmeras formas de aproveitamento, sendo essencial respeitar as especificidades de cada região, a exemplo das populações tradicionais que ao longo dos anos sobrevivem da floresta, extraindo látex, copaíba, andiroba, produzindo cavacos (cobertura rudimentar de casas feitas de madeira), utilizando espécies nativas para construção de embarcações, no uso medicinal, entre novas possibilidades através da inserção na industria de cosmético, fabricação de biojóias e de móveis rústicos com resíduos de madeira e cipós. Nesse sentido, encerramos nosso texto com a seguinte pergunta a floresta vale mais de chao ou de pé???????

Holmes, T. P. et. al . Custos e benefícios financeiros da exploração florestal de impacto reduzido em comparação a exploração florestal convencional na Amazônia Oriental. 2004. 68p.
Nogueira et. al. Procedimentos simplificados em segurança e saúde do trabalho no manejo florestal. Manual técnico 1 IFT. Instituto Floresta Tropical. 2010. 80p.

Um comentário:

  1. Acredito que iniciativas como a do IFT são importantantes para mostrar que os problemas ambientais da Amazônia não se restringem a simples conservação. Trata-se, contudo, de um processo complexo que tem como base a gestão e o plenejamento, com vistas à racionalização das atividades produtivas, como a extração da madeira. Parabéns pelo artigo.

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