terça-feira, 31 de maio de 2011

Desenvolvimento demográfico do município de Altamira e as suas múltiplas facetas*

Altamira é conhecida por ser o município com maior extensão territorial do mundo, com uma área aproximadamente de 160mil km². Porém, isso não significa que toda a sua área territorial esteja ocupada. Por estar no interior da floresta Amazônica, parte do município apresenta áreas florestadas, e, quando não, ocupada por extensos campos de produção agropecuária. No que diz respeito a sua demografia, é sabido que existem fatores que vem incentivando um crescimento sempre observado a cada contagem de população. Segundo a Enciclopédia dos Municípios, obra de referência do IBGE (1957), houve algumas missões jesuítas a partir do século XVIII em busca de catequizar as tribos indígenas que já habitavam o território brasileiro muito antes dos europeus (ou homens “brancos e civilizados”) imaginarem existir terra no meio do oceano Atlântico. Em meados do século XIX majores e coronéis aqui se estabeleceram, desenvolvendo assim algumas atividades que levaram o estabelecimento do município.
Desde sua criação (Lei Estadual nº 1.234, de 6 de novembro de 1911), o município de Altamira apresentou duas grandes fases de ocupação. A primeira gerada pelo ciclo da borracha na Região Amazônica. Nesse momento a cidade se transforma no núcleo da região produtora da borracha por volta da década de 1940, concentrando força de trabalho remobilizada – os chamados soldados da borracha e os garimpeiros, em busca de ouro na Volta Grande. É um período onde se verifica significativo crescimento urbano. A segunda fase se dá a partir da década de 1970, com a consolidação da BR-230, mais conhecida como Rodovia Transamazônica, e com a implantação da Política de Colonização da Amazônia. Foram iniciativas do governo em busca de consolidar a ocupação territorial dos chamados “vazios demográficos”. Sabe-se que, a partir desse momento, o município de Altamira vem apresentando um crescimento demográfico acelerado, como observado na tabela.


A tendência futura continua na direção do aumento populacional acelerado, haja vista a instalação do AHE Belo Monte que prevê um acréscimo de mais de 90 mil habitantes em toda a área afetada, tendo Altamira como principal município atingido. Porém, a estimativa de crescimento vai além desse número apontado pelos estudos encomendados pela Eletronorte. É bom lembrar também hoje há um possível desmembramento estadual, onde Altamira poderá fazer parte de um novo Estado brasileiro: Tapajós, o que incentivaria um incremento populacional no território altamirense.
Com o crescimento populacional e expansão da zona urbana do Município de Altamira vieram os problemas urbanos. Tratando-se de uma região drenada pela Bacia Hidrográfica do Rio Xingu, a sede urbana se desenvolveu as margens do rio Xingu e em meio aos igarapés Altamira, Ambé e Panelas. Essas áreas tratam-se de planícies de inundação naturais submetendo-se periodicamente a cheias, porém são ocupadas de forma desordenada, em sua maioria por populações de baixa renda que residem em locais com carência de infra-estrutura e saneamento básico. O desenvolvimento urbano causou a impermeabilização do solo, com a construção de edificações e a pavimentação das ruas. Outro problema agravante decorre da construção de fossas sépticas sem rigor, contaminando o lençol freático, já que ainda não foi implantado sistema de esgotamento sanitário.
Inclui-se, também, impactos relativos à saúde pública. Como não existe um sistema de saneamento básico, a população residente nas palafitas às margens dos cursos d'água despeja os dejetos diretamente nos igarapés, levando à poluição das águas. Dessa forma, deixa os moradores expostos às enfermidades relativas ao consumo da água e ambiente propício a vetores de transmissores de doenças como a dengue e leptospirose.
É bom lembrar que, além dos problemas ambientais listados é evidente na cidade uma supervalorização de imóveis, onde a especulação imobiliária tem sido evidente. Já existem bairros criados em áreas periféricas da zona urbana de Altamira, visando um futuro adensamento populacional de uma classe de padrão econômico alto. Porém vale ressaltar que tudo ainda não passa de uma grande especulação. Afinal, segundo os militantes dos movimentos sociais contra a construção do empreendimento Belo Monte, a hidrelétrica não será construída. Será?

*Prof. Msc. Luciana Martins Freire- Mestre em Geografia (UECE)- Profa. da Faculdade de Geografia- Campus de Altamira

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