terça-feira, 27 de setembro de 2011

A Província Espeleológica Altamira-Itaituba: exemplos de relevo (pseudo)cárstico na Amazônia

A Amazônia é uma região cheia de belezas naturais, muitas delas ainda desconhecidas. As paisagens nela encontradas são ricas em feições geomorfológicas, as quais resultam da interação sistêmica de elementos da natureza que desenham relevos com diferentes características, topografias e configurações. Dentre estas, destaca-se a Província Espeleológica Altamira-Itaituba, que reúne um conjunto de cavidades subterrâneas acessível à exploração do homem, representadas com diferentes feições de cavernas, em sua maioria formada pelo processo de arenitização.
A Espeleologia é uma área de estudo da Geologia que se dedica a investigar a natureza, a gênese e os processos de formação das cavidades subterrâneas e suas feições relacionadas, incluindo ainda os aspectos biológicos (fauna e flora). Na Geomorfologia este estudo desenvolve-se através do conhecimento relacionado ao Relevo Cárstico. Trata-se de uma região ou terreno com feições características de processos de dissolução de rochas carbonáticas pela ação da água subterrânea, na qual predomina a ação do intemperismo químico, originando em abertura de cavidades subterrâneas: as cavernas. Porém, no caso específico da Província Espeleológica Altamira-Itaituba essas feições foram desenvolvidas em arenito, sendo a ação mecânica da água (erosão hídrica) o principal fator de esculturação das paisagens, embora a ação química da água ainda possa ter papel fundamental. Por esse motivo, sem ainda um consenso entre os pesquisadores, esse modelato de relevo tem sido tratado como pseudocarste. As cavernas da Província Espeleológica Altamira-Itaituba situam-se na faixa de contato entre a Bacia Sedimentar do Amazonas e o Embasamento Cristalino do Complexo Xingu, mais precisamente na borda da bacia sedimentar e por esse motivo várias entradas dessas cavidades demonstram feições escarpadas pela ação da erosão resultante do recuo paralelo das vertentes de cuesta. Sua estrutura geológica se desenvolve em arenitos friáveis da Formação Maecuru e em folhelho da Formação Curuá.
Nesse sentido, a Faculdade de Geografia – Campus de Altamira (UFPA) tem desenvolvido aulas de campo às cavernas desta Província, objetivando conhecer in loco os assuntos estudados em sala de aula, além de oportunizar o conhecimento dessas áreas ainda pouco conhecidas na ciência geográfica e valorizar as paisagens locais. No ultimo mês de agosto foram realizadas duas visitas:
· A primeira ocorreu no dia 21 junto à turma de 2009, como prática da disciplina de Geomorfologia ministrada pela Profa. Me. Luciana Martins Freire, na Caverna Pedra da Cachoeira, situada a cerca de 15 km da sede do município de Altamira. A visita, por trata-se de um percurso longo e em mata fechada, foi guiada por integrantes do grupo de escotismo de Altamira. Durante a trilha de 3 km percorridaem mata com vegetação preservada
até a caverna foram analisadas as formas de relevo ondulado da região (morros e colinas). O local apresenta uma paisagem compensadora: uma bela cachoeira com queda de cerca de 8m de altura (fig. 01). O acesso final à Caverna Pedra da Cachoeira (fig. 02) é feito por uma pequena trilha que sobe a vertente direita do Igarapé.
A segunda visita ocorreu no dia 23, agora com a turma do intensivo (2010). Foi uma aula de campo integrada, onde reuniu a aula prática de duas disciplinas ministradas pelos professores Me. Luciana Martins Freire (Geologia) e Ms. Eder Mileno de Paula (Sensoriamento Remoto), além da presença

como convidado do Prof. Ms. Adolfo da Costa Oliveira Neto. Nessa ocasião, a visita se estendeu ao município de Brasil Novo, na Caverna Planaltina. Ali foi observado o comportamento da ação mecânica de formação das cavidades, como ocorrem os processos de arenitização e formas endocárticas (espeleotemas).
Em ambas as cavernas foram observadas marcas de degradação dessas estrutura em arenito, as quais apresentam suas paredes pichadas ou riscadas, além de resíduos sólidos lançados ao solo por visitantes que costumam realizar lazer nessas áreas. Contudo, nota-se a falta de conscientização ambiental de parte dos visitantes e também a falta de políticas públicas, ou mesmo privadas, para uso de medidas protecionistas como a criação de Unidades de Conservação.

*Profa. Msc. Luciana Martins Freire
Faculdade de Geografia

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