terça-feira, 4 de setembro de 2012

O ENSINO DE GEOGRAFIA NAS ESCOLAS DE NÍVEL FUNDAMENTAL E MÉDIO


Por Taiane de Cássia Costa e Vandinei S. Nascimento 

Um dos grandes desafios do ensino de geografia neste século é que os educadores possam levar para a sala de aula a “compreensão do espaço/tempo”, a valorização das escalas tanto globais como regionais, para que os alunos possam não só conhecer o mundo em que vivem, mas que sejam atores sociais críticos e atuantes.
No Brasil o ensino da geografia, como qualquer outra disciplina escolar, esbarra em vários problemas enfrentados em sala de aula como formação inadequada dos docentes, excesso de carga horária, problemas de infra-estrutura física e humana e outros que acabam afetando negativamente o processo de ensino-aprendizagem.
Uma das fases mais importantes da formação de quem faz um curso de licenciatura é o estágio de docência, onde o acadêmico passa a conhecer de perto a realidade em sala de aula do “ponto de vista” de um professor. Porém essa realidade vivida pelos licenciandos não é das mais animadoras na atual conjuntura da educação brasileira.
O Jornal de Geografia buscou saber dos alunos de Geografia da Universidade Federal do Pará como tem sido suas experiências de estágio nas escolas.
Segundo o acadêmico Igor Renan “o que mais chama atenção, é o papel do professor de geografia, muitos deles na verdade nem são professores de geografia, geralmente são professores de História ou de outra disciplina”. Ainda segundo ele o sistema de ensino tem “uma carência de professores da área e por esse motivo professores formados em outros cursos acabam lecionando geografia”.
“Para quem nunca deu aula ou vivenciou algo do tipo, a primeira vez em que entra em sala de aula para lecionar é um choque. Os problemas começam pela estrutura física das escolas, por exemplo: a escola que estagiei contava com pouquíssimos recursos didáticos e muitas vezes o próprio professor tem que retirar recursos do seu bolso para aplicar uma prova ou imprimir um mapa dentre outras coisas”. Segundo Igor tal fato não é exclusivo da geografia e acontece em outras disciplinas. Igor relatou que ‘’falta um empenho maior por parte do professor em passar o conteúdo de uma forma esclarecedora e dinâmica para turma, a chamada ‘didática’. Certos conteúdos, ainda parte daquela geografia 'decoreba', onde as informações são somente repassadas sem despertar o interesse dos alunos, tornando a aula chata. No caso dos  alunos do EJA (Educação de Jovens e Adultos) que além de uma vida bastante ocupada e estressante tem que estudar um conteúdo enfadonho”, avalia o acadêmico de geografia.
“Hoje a educação brasileira vive de números. Comerciais veiculados na TV alardeando o número de alunos matriculados e que a meta é só aumentar. Sim! isso seria bom se existisse uma maior qualidade de ensino, não adianta só encher uma escola de alunos e dizer que a educação está boa. Falta investimento em materiais didáticos, na estrutura da escola, etc. Esse problema reflete diretamente no ensino de geografia.”
O estudante relata que diz ter vivenciado um fato de lhe deixou perplexo. “Presenciei uma criança no 6º ano que não sabia escrever o próprio nome. Me perguntei, como isso acontece? Como uma criança com 12, 13 anos de idade e que frequenta a escola não saber escrever o próprio nome? O que ela esta fazendo todo esse tempo na escola, considerando que já estava no 6º ano? Descobri a resposta: a educação brasileira vive somente de números, quanto mais números e estatísticas é melhor e mais bonito pra sociedade ver e acreditarem que está tudo bem com a educação. O Estado e os governos municipais não ligam para qualidade de ensino, então o professor passa a ser o primeiro a ser  atingido por isso, onde ele se vê obrigado a aprovar o aluno mesmo sabendo que ele não está apto para prosseguir. No caso da maioria dos professores de geografia aqui em Altamira, a formação deles não vem do curso de geografia, faltam professores formados na área.  Esta faltando qualidade na educação, no ensino da geografia, na formação do professor de Geografia’’, finaliza o acadêmico.
Antônio Clébio de Araújo, que também realizou seu estágio de docência, descreve a estrutura da escola na qual trabalhou. “A escola onde estagiei, atende diferentes séries do Fundamental ao EJA. Sua estrutura física e humana é precária. Os profissionais que ali trabalham tentam manter a organização e a realização de vários setores, como secretaria, diretoria, coordenadoria, etc., sobrecarregando assim os profissionais e comprometendo a qualidade do ensino.” Clébio avalia que “mesmo diante dos esforços, muitos professores acabam recorrendo a comportamentos e métodos tradicionais demonstrando um  perceptível ‘abismo’ entre, os planos e modelos teóricos que direcionam a educação e a prática docente. As turmas configuram “um ambiente de enormes diferenças, onde os elementos em comum, em muitos casos, são o desinteresse, timidez e cansaço dos alunos”. Antônio Clébio avalia que existe uma atitude bastante passiva por parte dos alunos, sem muita contestação. Segundo ele, alguns questionamentos e resistências surgem quando o professor busca uma maior interação com as turmas ou buscam novas formas de abordagem em relação aos conteúdos trabalhados.
Antônio Clébio avalia que o período de estagio foi fundamental para realizar uma reflexão sobre a realidade observada no estágio e ao mesmo tempo proporcionou um processo de autocrítica enquanto profissional da área. Os parâmetros avaliados no estágio em sua opinião, possibilitara uma reflexão sobre “metodologias que venham desenvolver no aluno uma visão crítica sobre si e a complexidade e dinâmicas das relações globalizadas que movem nossa contemporaneidade”.      

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