quinta-feira, 26 de julho de 2012

PELA NECESSIDADE DE REPENSAR NOSSO MODELO DE DESENVOLVIMENTO

 por Marcel Ribeiro Padinha

Nos Últimos 50 anos, a Amazônia vive um profundo processo de reestruturação sócio-espacial e reordenamento histórico-cultural. Esse processo ocorre, de maneira intensa, a partir da década de 1960, e compõe a política de “integração” e incorporação da região à “nova” divisão territorial do trabalho em escala nacional e internacional. A região consolida-se ao longo desses anos como um espaço estratégico para o projeto de nação que o Estado brasileiro autoritário ou pseudodemocrático projeta para o país.
A prioridade é “modernizar” a Amazônia, livrá-la do abandono. O caminho? A modernização do território por meio de um “sistema de objetos” materializado em uma malha de controle técnico e político, uma “malha programada”, constituída pelo conjunto de programas e planos governamentais que colocaram a Amazônia na condição de uma fronteira de recursos naturais a ser violentamente incorporada pelo grande capital.
Desta forma, o paradigma que norteia esse processo de ocupação da Amazônia é a economia de fronteira, que se fundamenta na idéia de progresso e de desenvolvimento – entenda-se crescimento econômico – e prosperidade INFINITA com base na exploração de recursos naturais, também eles percebidos como de duração INFINITA.
Acompanhando o projeto de modernização da Amazônia tem-se um conjunto de “magmas de significação” responsáveis pela criação de um imaginário em que se atribui uma positividade ao novo, tido como o moderno, o inovador e uma negatividade ao antigo, ao herdado do passado, ao tachado de tradicional. Essa perspectiva de compreensão da história e da realidade está pautada numa “ideologia do progresso” e numa espécie de “fundamentalismo do novo”, presentes em práticas e formas de representações caracterizadas pela violência e pelo colonialismo que ainda servem para justificar a marginalização de populações representativas da Amazônia, quais sejam: índios, ribeirinhos, pequenos agricultores, seringueiros, varzeiros, populações quilombolas.
Essas sociedades que possuem práticas de sociabilidades diferenciadas passam a ser classificadas como tendo modos de vida ultrapassados, por estarem pautadas em outras temporalidades históricas e configuradas em outras formas de TERRITORIALIDADES e por terem modos de vida estruturados a partir de racionalidades econômicas e ambientais com saberes e fazeres DIFERENCIADOS da racionalidade CAPITALISTA.
Esse projeto de modernização autoritária é materializado por meio de um Estado autoritário, e viabilizado através de grandes projetos, grandeza explicada pelo tamanho da desgraça que geram. Isso explica o porquê, de 50 anos pra cá, tais populações junto com suas sociabilidades singulares serem tidas como obstáculos ao “desenvolvimento”, posto que nessa visão se vislumbre um único futuro possível: a modernização ocidental capitalista e a sociedade de consumo urbano-industrial. Aqueles povos que não forem dignos de incorporar-se a esta marcha inexorável da história estão fadados a não mais existir... se assim eles e nós o permitirmos.

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