quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Turismo como política pública: por uma estratégia espacial para além do desenvolvimento econômico

O Turismo como política pública: por uma estratégia espacial para além do desenvolvimento econômico

Prof. MSc. José Carlos da S. Cordovil (Faculdade de Geografia)

Há anos tem-se propalado a redução da importância do Estado no contexto econômico, político e social da sociedade, contudo, o que se discute, atualmente, é uma redefinição de seu papel, mas não de sua relevância no contexto do desenvolvimento no mundo globalizado. As reestruturações no aparato estatal redefiniram as ações de políticas públicas que estão voltadas ao crescimento econômico e à competitividade no mercado atual. Nesse sentido, tais políticas buscam uma nova forma de administração que envolva o setor privado e os demais poderes públicos no processo de desenvolvimento nacional. O turismo surge, no atual contexto de flexibilização econômica, como estratégia de política pública capaz de ocasionar o desenvolvimento, se bem planejado.
Mas, as repercussões ocasionadas na elaboração e implementação das políticas de turismo mostram que a concepção de desenvolvimento apresenta um reducionismo ligado ao crescimento econômico e à modernização tecnológica, deixando de se analisar variáveis como autonomia e justiça social como elementos importantes no processo de planejar o desenvolvimento.
Nestes termos, pretende-se com esse breve texto evidenciar a importância das políticas de turismo como estratégia de gestão territorial, relacionando-a com as contribuições teóricas do desenvolvimento sócioespacial de (SOUZA, 2004), visando a relativizar o conceito de desenvolvimento ora aplicado às políticas públicas de turismo, apontando uma possível interpretação crítica como proposta de gestão para o desenvolvimento.
A partir de uma análise crítica verifica-se a grande transformação na estrutura do Estado, em que a redefinição de sua ação torna o turismo como uma das mais promissoras atividades econômicas, não é apenas como um fenômeno econômico, mas também político, cultural e social, que pela sua relevância passa a ser utilizada como estratégia de gestão do território.
Através das ações governamentais são implementadas políticas públicas, especialmente em nível estadual e municipal cujos objetivos dizem respeito à instalação de infra-estrutura, de equipamentos e à qualidade dos serviços turísticos e/ou de apoio ao turismo, configurando a atividade como vetor estratégico de crescimento.
Contudo, sabe-se que a maior parte das literaturas enfatiza a concepção de desenvolvimento como sinônimo de crescimento econômico e modernização tecnológica, havendo assim, a necessidade de ampliação do entendimento do conceito, analisando-o como processual em que deverão constar como variáveis a justiça social e a qualidade de vida e a autonomia individual e coletiva de todos os atores sociais Como estratégia espacial, atualmente o turismo tem se revestido como alternativa de desenvolvimento; este, contudo, é marcado por uma presença da abordagem economicista. A concepção de desenvolvimento presente nas ações de incentivo à atividade prima por considerar a dimensão econômica sem levar em conta parâmetros como a justiça social e a qualidade de vida.
É importante que as estratégias de gestão territorial possibilitem a implementação da atividade turística não como uma finalidade em si mesma, mas como um meio que permita o desenvolvimento econômico, social e espacial. Para isso, é preciso que a política de turismo seja resultado de discussões e de participação social, verificando-se as propostas dos vários setores que vêem no turismo uma alternativa para o desenvolvimento, especialmente da população, grupos e comunidades que vivem cotidianamente o espaço local.
Nesse sentido, pontuamos que o processo de construção de uma sociedade mais justa e social deve ser encarada como um desafio, pois segundo Lefebvre (1999) o possível faz parte do real, lhe dá o sentido, ou seja, a direção e a orientação; e a possibilidade, nesse caso, é a prática da atividade turística como estratégia de gestão para o desenvolvimento sócioespacial.
Esse é o grande desafio, tornar o turismo um propiciador de desenvolvimento, um fator de sustentabilidade, mas esta precisa ser construída considerando que não basta somente um desenvolvimento econômico, mas sócioespacial.

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