quarta-feira, 27 de abril de 2011

A palavra, a racionalidade e o ambiente

Prof. Dr. Yarnel de Oliveira Campos
(Faculdade de Geografia -UFPA)

A palavra é um signo que se relaciona com o objeto de maneira a dar origem em nossa mente a um segundo signo, que explica o primeiro. Ao explicar para uma criança o signo da palavra pássaro pode-se mostrar um desenho de um pássaro, que é o segundo signo que interpreta o primeiro. Então podemos dizer que o signo é uma coisa que está no lugar que ele representa. Essa representação pode assumir aspectos múltiplos de acordo com o tipo de relação que o signo mantém com o objeto.
Quando a relação entre o objeto e o signo é arbitrária, imposta por uma convenção, tem-se o símbolo. A palavra é uma linguagem simbólica, pois não há nada na palavra pássaro nem na sua forma escrita que nos leve ao objeto por ele representado, então se torna um ato arbitrário.
À medida que essa relação, signo simbólico e o objeto representado são arbitrários se manifesta como uma construção da razão para podermos aproximar da realidade e transmitir o conhecimento. Assim se instaura a construção histórica, ou seja, a temporalidade da existência humana. Pela palavra escrita ou verbal, o ser humano deixa de reagir somente ao presente e constrói o seu projeto de sustentabilidade da vida.
A palavra “meio”, segundo o dicionário Aurélio significa: “Ponto equidistante, ou mais ou menos equidistante, dos extremos; metade. Ou ponto equidistante de diversos outros em sua periferia; centro”. O signo simbólico da palavra “meio” é construído em nossa razão como metade ou centro de algo.
Segundo Enrique Leff (2002, p.73) no livro intitulado “Epistemologia Ambiental”, foi o naturalista francês, Geoffroy Saint-Hilaire - (1772 – 1844), quem usou a noção de “meio Ambiente” em 1831 para referir-se às circunstâncias que afetam uma “FORMAÇÃO CENTRADA”.
O descaso semântico do termo “Meio Ambiente” me preocupa, pois a palavra “Meio” pode nos remeter, enquanto idéia: a metade de um todo, ao centro de uma parte, a separação do sistema ambiental complexo e ainda ao antropocentrismo ou ao ecocentrismo. Ao posicionarem na defesa do antropocentrismo, manifestam-se a visão de que o mundo gira em torno das necessidades humanas e a natureza é abordada como instrumento para nos favorecer. Já o ecocentrismo diverge dessa visão e nega a centralidade do ser humano no ambiente e integra-o na órbita da natureza. Essas visões possuem como fundamento a centralidade, seja como centro o ser humano ou a natureza.
Já pensamos que éramos o centro do Universo, do sistema solar e até de nos mesmo enquanto ser racional. Todas essas centralidades foram desbancadas. Será que a concepção da palavra meio nos conduziu a uma centralidade que nos levou a estabelecer um raio concêntrico para nos proteger dos acidentes nucleares? Ou usar a concepção de centro na legislação para proteger nossas nascentes de água? Será que a natureza entende e submete a lógica do centro ou da metade construída na nossa razão? Essas questões ficam para uma reflexão sob a luz da racionalidade e posteriores discussões.

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