terça-feira, 2 de agosto de 2011

A Escalada da Violência Agrária na Amazônia*

Nas últimas semanas, o assassinado de três assentados no município de Nova Ipixuna no Pará, e de uma liderança do MCC (Movimento Camponês Corumbiara), movimento que atua na divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia, ilustrou mais uma vez a gravidade dos conflitos agrários na Amazônia. Tais conflitos, que culminaram com a morte desses trabalhadores, vêm ceifando a vida de pais e mães de famílias sistematicamente em nossa região. Essa escalada intensifica-se com as políticas de ocupação e integração regional implementadas pelo Estado na segunda metade do século passado. Essencialmente, a mola propulsora dessa violência agrária, noticiada pela mídia e vista por políticos com aparente espanto, foi acionada por essas políticas de estado. A partir daí, em nome do desenvolvimento e do progresso, a região torna-se um espaço de conflitos e de massacres, cujos desdobramentos não ecoam tanto quanto as possíveis vantagens dos projetos de modernização, progressivamente impostos.

Fonte da imagem: http://oolhodahistoria.blogspot.com/2011/06/raizes-da-violencia-na-amazonia.html

A falta de preocupação com a resolução desses conflitos é tão vergonhosa que, no caso da execução do casal de extrativistas em Nova Ipixuna, há tempos jurado de morte, o encaminhamento dado pela própria presidência foi autorizar a atuação da polícia federal nas investigações. Ao propalar essa medida, inclusive em função da visibilidade que tomou o caso, o Estado dá a impressão de que, com a possível prisão dos envolvidos no assassinato, tudo está resolvido, como se o crime fosse um crime comum, casual. Com isso, ignora o fato de que, por traz do referido assassinato e de muitos outros que não vêm tendo a mesma repercussão, existe um quadro de antagonismo que confronta, diariamente, agentes com diferentes maneiras de se apropriar da terra e dos recursos naturais na Amazônia.
Este quadro, criado pela ação e omissão do próprio Estado exige, igualmente, políticas públicas sérias que não apenas assente famílias sem terra, mas dê condições de infra-estrutura e de segurança para que essas famílias possam efetivamente produzir e se reproduzir, conforme seu modo de vida. A Polícia Federal e a Força Nacional de Segurança não vão resolver os problemas agrários na Amazônia. Esses problemas são complexos e envolvem redes de interesses, em que as mortes de trabalhadores são apenas o resultado, a conseqüência, de processos ligados à grilagem de terra, ao desmatamento e, mais recentemente, à expansão desenfreada do agronegócio. Enquanto não se criarem mecanismos efetivos para limitar a atuação dos agentes econômicos que estão por traz desses processos, o massacre de trabalhadores rurais continuará aumentando as estatísticas da CPT e qualquer proposição do Estado não passará, simplesmente, de engodo político.

*Prof. Msc. José Antônio Magalhães Marinho (Faculdade de Geografia)

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