sexta-feira, 10 de agosto de 2012

RELIGIÕES NO BRASIL SEGUNDO O CENSO DE 2010 DO IBGE

por Luiz Fernando Roscoche
Aumento do número de religiões e migração de uma religião para outra é o que revela entre outras coisas o Censo do IBGE de 2010.
A religião católica seguiu a tendência de anos anteriores apresentando redução no número de fiéis como aconteceu em Censos anteriores, eles passaram de 73,6% em 2000 para 64,6% em 2010. Segundo o IBGE, o catolicismo “vem perdendo adeptos desde o primeiro Censo, realizado em 1872. Muitos atribuem a esse decréscimo devido ao surgimento e popularização de outras religiões no país, ou ainda pelo conservacionismo da igreja que dificulta a atração de mais fiéis, principalmente os mais jovens. Nesse sentido, buscando reverter tal imagem a igreja católica hoje possui uma “linha”, intitulada “Renovação Carismática Católica”, onde as missas ganham maior alegria, com danças e coreografias que contam com a participação de seus fiéis.
Para uma melhor visualização clique na imagem
Mesmo com esse decréscimo gradativo o catolicismo continua sendo de a religião com maior número de adeptos, com mais de 123 milhões de fiéis. A região norte foi a que mais perdeu católicos, que passaram de 71,3% para 60,6% (entre o Censo de 2000 e 2010 respectivamente), ao passo que os evangélicos, nessa região, aumentaram sua representatividade de 19,8% para 28,5%. O Estado com o maior percentual de católicos é o Piauí com 85,1% de fiéis. Em contrapartida o Estado com o menor percentual de católicos está o Rio de Janeiro com 45,8% em 2010. No que se refere a faixa etária dos católicos a proporção de católicos foi maior entre as pessoas com mais de 40 anos, chegando a 75,2% no grupo com 80 anos ou mais, ou seja, o catolicismo é mais forte em faixas etárias mais elevadas. É nessa ultima faixas etária é onde existe a maior proporção de analfabetos também. No que tange ao recorte por cor ou raça, as proporções de católicos seguem uma distribuição aproximada à do conjunto da população: 48,8% deles se declaram brancos, 43,0%, pardos, 6,8%, pretos, 1,0%, amarelos e 0,3%, indígenas.
No que se refere ao nível de ensino dos católicos, 6,8% deles possuem pessoas com 15 anos ou mais de idade sem instrução. Em relação ao ensino fundamental incompleto, os católicos possuem 39,8% dos seus fiéis nesse nível de instrução.
Segundo o IBGE, os católicos e os sem religião foram os grupos que tiveram os maiores percentuais de pessoas de 15 anos ou mais de idade não alfabetizadas (10,6% e 9,4%, respectivamente).
A comparação da distribuição das pessoas de 10 anos ou mais de idade por rendimento mensal domiciliar per capita revelou que 55,8% dos católicos estavam concentrados na faixa de até 1 salário mínimo.
Enquanto o número de católicos está caindo o número de evangélicos apresenta crescimento passando de 6,6% em 1980, 9% em 1991, 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. Entre aqueles que se declararam evangélicos 60,0% eram de origem pentecostal, 18,5%, evangélicos de missão e 21,8 %, evangélicos não determinados. Em relação aos evangélicos, a maior concentração estava em Rondônia (33,8%), e a menor no Piauí (9,7%). No que se refere a faixa etária dos evangélicos, as crianças entre 5 a 9 anos representam 25,8% e os adolescentes entre 10 e 14 anos 25,4%. Já quando o quesito religião é cruzado com a variável raça, verifica-se que entre os evangélicos, a maior proporção era de pardos (45,7%).
Os resultados do Censo 2010 indicam importante diferença dos espíritas para os demais grupos religiosos no que se refere ao nível de instrução. Este grupo religioso possui a maior proporção de pessoas com nível superior completo (31,5%) e as menores percentagens de indivíduos sem instrução (1,8%) e com ensino fundamental incompleto (15,0%). No que tange o rendimento, verificou-se que entre as pessoas de 10 anos ou mais de idade que tinham o rendimento mensal domiciliar per capita de até 1 salário mínimo, os evangélicos pentecostais foi o grupo com a maior proporção de pessoas nessa classe de rendimento (63,7%), seguidos dos sem religião (59,2%).
Entre os espíritas, que passaram de 1,3% da população (2,3 milhões) em 2000 para 2,0% em 2010 (3,8 milhões), o aumento mais expressivo foi observado no Sudeste, cuja proporção passou de 2,0% para 3,1% entre 2000 e 2010. O estado com maior proporção de espíritas era o Rio de Janeiro (4,0%), seguido de São Paulo (3,3%), Minas Gerais (2,1%) e Espírito Santo (1,0%). Este grupo religioso possui a maior proporção de pessoas com nível superior completo (31,5%) e as menores percentagens de indivíduos sem instrução (1,8%) e com ensino fundamental incompleto (15,0%). Os não alfabetizados no espiritismo perfazem apenas 1,4%.
No que se refere a faixa etária os espiritas a maior proporção se encontra no grupo entre 50 e 59 anos (3,1%). Entre os espíritas, 68,7% eram brancos, percentual bem mais elevado que a participação deste grupo de cor ou raça no total da população (47,5%). No que se refere ao rendimento os espiritas apresentam as melhores condições econômicas entre todas as religiões pesquisadas. Mais de 13% dos espiritas possuem rendimento entre 5 a 10 salários mínimos per capita e 7% recebe mais de 10 salários mínimos. Ou seja, 20% dos espiritas recebem entre 5 ou mais de 10 salários mínimos per capita enquanto os católicos e sem religião somam respectivamente 6%. Já os evangélicos nessa faixa salarial somam apenas 3%, bem abaixo dos sem religião e dos umbandistas e outras religiões que totalizam 7%.
Para uma melhor visualização clique na imagem
Conforme destaca o IBGE a tendência em geral é que haja um decréscimo do número de católicos e um aumento do número dos evangélicos, sem religião e espiritas. Na região norte onde a religião católica perdeu mais católicos, por outro lado verifica-se a evolução da religião evangélica. No que se refere a educação os espiritas possuem o maior nível de instrução sendo que 35% dos seus adeptos possuem ensino superior enquanto, enquanto que o segundo colocado com 15% é a religião de Umbanda e Candomblé. Já a classificação outras religiões possuem 13% com nível superior, enquanto os católicos e sem religião possuem 11% de sua população nesse nível de escolaridade. Os evangélicos por sua vez possuem apenas 8% de seus fiéis com ensino superior. Já entres aquele que não possuem instrução ou o ensino fundamental completo, a maior porcentagem é encontrada entre os católicos que possui 51% dos seus fiéis nessa classificação enquanto os evangélicos veem na sequencia com 49%. Ocupando a terceira posição entre os sem instrução ou com ensino fundamental incompleto estão aqueles que não tem religião com 48%, seguido de outras religiões com 40% e Umbanda e  Candomblé perfazem 33%. Nos espiritas essa porcentagem chega apenas a 18% dos seus adeptos nessa classificação.       
Ao contrário do que muitos especialistas previam, nossa sociedade não vem abandonando a religião em detrimento da ciência como se pensava, em alguns casos as religiões fundamentalistas, que pregam limites até mesmo para o comportamento de seus fiéis tem crescido significativamente. Já outras religiões tradicionais começam a perder espaço para novas religiões mais pragmáticas e imediatistas, e que se utilizam de uma linguagem clara e direta aos seus fiéis. Outra grande tendência é as pessoas não possuírem religião, que não é o mesmo que ser ateu. Muitas pessoas acabam montando seu conjunto de valores extraídos de várias religiões para seguir, embora não frequentem ou sigam rigorosamente uma ou outra religião. A palavra fiel nesse contexto talvez deva ser melhor avaliada uma vez que as pessoas sem religião e mesmo muitas que possuem religião tem laços de fidelidade muito frágeis ou inexistentes.
As mudanças quantitativas verificadas pelo IBGE não são suficientes para explicar muitos questionamentos subjacentes que se encontram nessa temática. Tal tema deveria ser melhor estudado, seja por antropólogos, sociólogos, geógrafos, psicólogos e outros profissionais que possuem bagagem teórica para analises qualitativas desse fenômeno e assim explicar a razão de tantas mudanças nas religiões no Brasil. Quais as variáveis que interferem para que uma pessoa opte por uma religião ou ainda as motivações para que essas mudem de religião? Essas mudanças de religião são de cunho individual ou coletivo? A Economia ou a mídia contribuem para que essas mudanças ocorram? Qual é o papel das religiões em nossa sociedade atual. Essas são algumas perguntas fundamentais que ajudariam a explicar a dinâmica das religiões em nosso país.






Nenhum comentário:

Postar um comentário