terça-feira, 26 de outubro de 2010

“Um olhar antropológico sobre o Xingu”

“Um olhar antropológico sobre o Xingu”
Profa. Me. Rita Denize de Oliveira*
No dia 13 de Outubro de 2010, às 17 horas, no Auditório do Campus de Altamira, fomos agraciados com a presença do Doutor Eduardo Viveiros de Castro , que ressaltou sua alegria em visitar Altamira, depois de quinze anos afastado. Em sua palestra Viveiros Castro abordou a situação indígena na região do Xingu e no Brasil, contou algumas experiências de trabalho dentre as quais a chegada do Professor Lévi-Strauss, convidado a lecionar sociologia na recém-criada Universidade de São Paulo na década de 30, dirigiu-se ao Cônsul Brasileiro na França para saber informações sobre populações indígenas no território brasileiro, para que pudesse desenvolver suas pesquisas quando chegasse à Universidade de São Paulo, tendo o Cônsul respondido que no Brasil não existiam mais “índios”, os mesmos já desapareceram há muitos anos - o que nos leva a refletir que é histórica a negligência, desconhecimento e omissão do governo brasileiro em relação a essas populações, simplesmente ignorando o que diz Viveiros de Castro: “No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é”,pois, a sociedade brasileira tem sua formação no tripé Índios, Brancos e Negros. Assim, segundo Viveiros de Castro, hoje caber-nos-ia aprender com as populações tradicionais, pois, segundo o pesquisador, a Floresta Amazônica é produto da relação intima de no mínimo 20.000 vinte mil anos destas populações com a natureza, que criaram espaços de gênese antrópica, como seringais, açaizais, babaçuais etc.. Sem falar nas chamadas “Terras Pretas Arqueológicas” que são solos de elevada fertilidade, que tiveram suas características morfológicas e químicas alteradas pela intervenção antrópica pretérita, através da adição de resíduos orgânicos, sendo associados na Amazônia a antigos assentamentos indígenas. Segundo Viveiros de Castro teriam sido criados propositalmente pelos índios através do uso das fogueiras, descarte de folhas das palmeiras, restos de alimentos, resultantes de práticas de agricultura sustentáveis, no qual os solos teriam um poder de regeneração muito maior, de que os demais solos amazônicos.
Outro aspecto enfatizado por Viveiros de Castro é o fato da maioria dos projetos da região são feitos em gabinetes de burocratas, onde estradas, linhas de transmissão de energia, hidrelétricas são projetadas sem levar em consideração que vidas estão sendo afetadas por tais projetos, como aconteceu, por exemplo, na região do Xingu. Castro relembrou sua atuação na região contra a instalação do Complexo Xingu há mais de uma década atrás, que previa a construção de uma hidrelétrica no Rio Xingu, e que agora teve reformulação do projeto com redimensionamento da área do lago, culminando com a Hidrelétrica de Belo Monte.
Finalizando sua palestra, ele conta uma anedota de três índios Tupinambás que foram levados para visitar a França no inicio da colonização brasileira, após a visita a Paris foi feita a celebre pergunta, o que vocês acharam da visita? Eles responderam três coisas que lhes chamaram atenção: 1) O fato dos Adultos serem governados por uma criança, na época a França era governada por um herdeiro menor de idade; 2) O porquê existia tantas pessoas morrendo de fome nas ruas? E as demais não se sensibilizam e, por fim, 3) Porque os miseráveis que eram em maior número não se rebelavam contra a situação.
Concluindo, o professor Viveiros de Castro faz o seguinte comentário: As populações indígenas admiram o desenvolvimento tecnológico do homem branco, mas não querem as mazelas sociais criadas pelo mesmo.

Etnólogo americanista, com experiência de pesquisa na Amazônia, Doutor em Antropologia Social pela UFRJ, Pós-doutorado na Université de Paris X, Professor de etnologia no Museu Nacional-UFRJ desde 1978; Autor de obras importantes como: Encontros, Metaphysiques Cannibales Lignes D'anthropologie Post-Structurale e a Inconstância da Alma Selvagem
*Profa. Me. Rita Denize de Oliveira – Faculdade de Geografia Campus de Altamira

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