sábado, 9 de junho de 2012

Projeto Roteiro Geo-Turístico aborda Belle Époque em Belém

 por Mayara Albuquerque / Junho e Julho 2012

Com o objetivo de reaver a memória socioespacial do centro histórico da capital paraense, o Grupo de Pesquisa em Geografia do Turismo (GGEOTUR) da Faculdade de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) vem desenvolvendo roteiros geoturísticos, os quais retomam a história da cidade e valorizam a cultura do Estado.
Nesta perspectiva, o Grupo desenvolveu o Projeto "Roteiro Geo-Turístico: percorrendo e revelando paisagens da Belle Époque", sob a coordenação de Maria Goretti Tavares, docente da Faculdade e do Programa de Pós Graduação em Geografia. A ideia é tomar como base a formação histórica e espacial do centro de Belém, reconstituindo e valorizando a memória socioespacial e patrimonial a partir dos seus atores sociais.
O roteiro da Belle Époque é o terceiro idealizado pelo grupo, que, desde 2011, já desenvolve o "Cidade Velha: conhecendo o centro histórico de Belém", que percorre o bairro da Cidade Velha, no sentido do Forte do Castelo à Praça Dom Pedro II e o "Do Ver-o-Peso ao Porto", que percorre a Feira do Ver-o-Peso em seu interior, partindo da Praça do Pescador à Estação das Docas. A elaboração dos roteiros é feita por de pesquisa bibliográfica, documental e de informações colhidas no centro histórico. Com essas informações, a equipe define o trajeto a ser realizado.
Segundo Goretti Tavares, coordenadora do Projeto, a proposta do roteiro geo-turístico surgiu com as pesquisas e debates realizados pelo Grupo de Pesquisa Turismo e Desenvolvimento Socioespacial na Amazônia. Um dos problemas identificados pelo Grupo foi a insuficiência de ações voltadas para o turismo, as quais valorizassem o potencial histórico, cultural, patrimonial de Belém e, por conseguinte, a memória socioespacial da cidade. "Verificamos que não havia roteiro turístico a pé nas ruas de Belém e pensamos em realizar um projeto que pudesse envolver mais a sociedade, levando as pessoas a conhecerem e a valorizarem o nosso patrimônio", afirma.

O turismo visto na perspectiva da educação patrimonial

Além da ótica diferenciada de turismo, o Projeto possibilita a formação de novos agentes sociais, reprodutores de um turismo alternativo e com a perspectiva da educação patrimonial. A intenção é romper com os atuais paradigmas do mercado do turismo que coloca em prática o consumo pelo consumo do espaço.
De acordo com a professora, do ponto de vista prático, as políticas de turismo implementadas no território paraense têm contribuído pouco para promover, de fato, o desenvolvimento local. Suas diretrizes estão voltadas para a exploração do potencial natural dos territórios.
"Neste Projeto, o conteúdo intercala elementos conceituais sobre a paisagem, associando a Geografia aos conhecimentos de Arquitetura, História e Turismo", explica Goretti Tavares. Segundo a coordenadora, a perspectiva da política de turismo para o Pará é promissora, uma vez que, em 2012, o Estado lançou um novo plano de turismo, no qual a cultura é carro chefe, além de ter criado a Secretaria de Turismo.

Borracha – Durante o século XIX, desenvolveu-se o período do apogeu da economia extrativista na Amazônia, proporcionado pelo êxito econômico trazido com a exportação da borracha. A goma elástica teve uma progressiva procura pelos mercados internacionais e esse interesse fez a borracha assumir um papel importante na economia regional. Nesse período, Belém cresceu e urbanizou-se, importando modelos europeus de grandes construções, como teatros e praças. O Ciclo da Borracha deixou na cidade vestígios espaciais que sobrevivem até hoje.
Segundo a professora Goretti Tavares, a ideia de realizar um roteiro temático teve a intenção de reunir as diversas áreas de conhecimento, nas quais estão inseridos os bolsistas do Projeto, e também contemplar a programação comemorativa ao centenário do Cinema Olympia, fundado durante o apogeu da borracha. "O Olympia estava fazendo 100 anos e queríamos incluí-lo ao roteiro. Surgiu, então, a ideia de produzir um passeio sobre a Belle Époque,  o qual nos permitisse contar a história da cidade para a sua população", explica.
O roteiro retrata a história e a geografia da cidade durante o período da borracha e a modificação na forma e atuação destes espaços na atualidade.  O passeio inicia no cinema Olympia, passando pela Praça da Sereia, prédio do IEP (antiga sede da Província do Pará), Edifício Manoel Pinto da Silva (antiga Casa Outeiro ou Casa de Secos e Molhados), Casa da Linguagem, Palacete Bolonha, Praça da República, Rua Santo Antônio, Loja de tecidos Paris n’America, Avenida Boulevard Castilho França e termina na Praça dos Estivadores. O grupo também desenvolve outras atividades como mesas-redondas, palestras, e ainda tem como plano lançar um documentário baseado nos roteiros realizados e um livro com artigos de alunos e professores sobre a experiência no Projeto

Equipe pretende desenvolver roteiros em todo o Estado

Atualmente, o Projeto conta com 19 bolsistas de extensão e de pesquisa. São estudantes do ensino médio, da graduação e da pós-graduação, além de professores colaboradores das diferentes faculdades. "Após o Projeto, nós conseguimos olhar a cidade com outra perspectiva, nos apropriando do patrimônio como parte da nossa história e exigindo sua preservação. Isto é enriquecedor", afirma Casluym Farias, estudante do curso de Geografia e bolsista do Projeto.
Após o passeio, os participantes recebem um formulário de avaliação por e-mail. "Queremos coletar críticas, observações, sugestões e dicas dos participantes para melhorarmos os roteiros. Com a avaliação, podemos incluir ou modificar detalhes da programação. Temos recebido o retorno do nível de satisfação dos participantes, isso nos motiva a melhorar cada vez mais a programação", afirma a professora Goretti Tavares.
No futuro, a equipe quer expandir os roteiros geo-turísticos para outros municípios. Já estão sendo feitos contatos com parceiros em Breves, Altamira, Ponta de Pedras, Vigia, Bragança, Marabá e Santarém. "A ideia é que renovar o projeto sempre e que a sua concepção atinja todo o Estado. É preciso que a população conheça a sua história e valorizes o seu patrimônio cultural", conclui.
O projeto Roteiros Geo-turísticos é financiado pelo Ministério da Educação e pela Pró-Reitoria de Extensão da UFPA (PROEX), além de contar com o apoio da Belemtur, Paratur, SECULT-PA, Associação dos Moradores do Bairro da Cidade Velha (Civiva) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Em 2011, o trabalho foi indicado para concorrer à 24ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Ministério da Cultura, na categoria de educação patrimonial.

Serviço: Roteiros são realizados quinzenalmente, estão abertos ao público e têm três horas de duração. Mais informações:

Nenhum comentário:

Postar um comentário